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Ok, a lista abaixo não é bem 5 passos a serem obedecidos, uma vez que não há apenas um caminho a ser seguido quando se está vivendo um projeto. Se não são passos, poderia ser uma receita? Receitas milagrosas para o sucesso nunca dão certo. Nunca. Sempre ouvimos histórias de produtos que tinham feito tudo conforme a cartilha manda (focus group, disaster check, piloto…) mas não conseguiram sair da prateleira. E tantas outras histórias de improvisos que viraram sucesso (a Coca-Cola que originalmente era um remédio ou o Viagra que era um remédio para uma doença cardíaca).
A verdade é que mesmo com muito planejamento, um novo produto sempre é uma aposta. E quanto mais rompedor, maior a aposta. Por isso tendo a desconfiar de qualquer lista com dicas ou passos para criar o produto perfeito.
Mas estamos aqui na era do Buzzfeed e listas são, no mínimo, uma boa forma de organizar o pensamento. Por isso, elegi os 5 principais aprendizados que tive trabalhando 10 anos com desenvolvimento de novos produtos para compartilhar por aqui:
1) Fazer um briefing com todas (todas!) as informações do produto
Vamos admitir que muitas vezes não sabemos tudo sobre o produto que vamos lançar. Isso acontece porque muitas coisas são desenvolvidas no caminho. É natural que o próprio Gerente de Produto não tenha todas as respostas no começo de um projeto. Mas é importante que o GP tenha um “dossiê” com tudo o que for decidido para facilitar a comunicação com as áreas de interface. Além de ter tudo registrado, o hábito de atualizar sempre esse dossiê pode facilitar muito a vida do GP no momento do lançamento do produto.
Por exemplo: a área comercial precisa de informações para repassar à equipe de venda e mostrar as vantagens do lançamento vs concorrência. O GP já fez esse levantamento no período do planejamento do novo produto. O ideal é que a área Comercial tire daí as informações para os treinamentos. Além de evitar que duas áreas façam o mesmo trabalho, garantimos que as duas áreas estejam falando a mesma coisa.
Outra situação: o Jurídico ou área Regulatória precisa saber a composição do produto para fazer um registro. No dossiê o GP vai ter essa informação (validada pelas áreas técnicas, claro) e assim a resposta, que poderia levar dias, estará ao alcance de um e-mail.
2) Conheça todas as áreas de interface do seu projeto
Praticamente a empresa inteira terá alguma relação com o novo produto. Seja como consumidor, porta-voz da marca ou trabalhando efetivamente no projeto. São tantas áreas que às vezes não nos damos conta: a Contabilidade, o Cientista/Técnico que está desenvolvendo o produto, a área comercial, Comunicação, a galera da Logística…
Você não precisa saber tudo o que o técnico sabe, mas você precisa ao menos saber quem é essa pessoa que está trabalhando em seu projeto. Em empresas com estrutura menor isso soa óbvio. Mas em grandes empresas, em que muitas vezes as equipes estão em cidades, estados ou até mesmo países diferentes, conhecer todo o time de trabalho pode ser um desafio.
Além de saber quem são, procure conversar e descobrir o que essas pessoas pensam sobre o projeto (elas acreditam no lançamento? Entenderam o propósito?). Isso traz um sentimento de guardião do projeto a todos os envolvidos e o tão buscado comprometimento. Insights vem de todos os lados, precisamos ter humildade e ouvido para receber os feedbacks. Acredite, pode ser surpreendente o que o cara do TI tem a dizer sobre um batom.
Em um projeto de Perfumaria que participei, o Engenheiro da Fábrica sugeriu o redimensionamento da caixa do produto para facilitar o uso das máquinas. O Designer não tinha esse conhecimento tão específico quando propôs a caixa. O redimensionamento foi feito e a produtividade aumentou (em consequência, custos mais baixos). O time deve se sentir a vontade para contribuir e é o papel do GP criar um ambiente propício para isso.
3) Não existe projeto simples
Um carro que vai para o espaço é um projeto mais complexo que o gerenciamento de um perfil numa rede social? Um projeto de desenvolvimento de um aplicativo é mais complexo que o desenvolvimento de um lápis? Difícil comparar.
Algumas atividades podem parecer simples, mas sempre requerem atenção.
Você pode estar trabalhando em 10 projetos ao mesmo tempo e decidir o quanto você se estressa em cada um deles por “complexidade”. Um projeto que envolva mais dinheiro, mais pessoas, mais tempo, tende a ser o que tira o nosso sono. E aí os projetos mais “simples” caem no automático. Consegue pensar em algum exemplo de projeto simples que acabou virando O problema que tirou seu sono?
Um bom exemplo pode ser o departamento de RP da SpaceX: eles tinham um clássico projeto ”tira-sono” a comunicar, o lançamento do Tesla Roadster ao espaço. Informações técnicas a jornalistas, investidores, comunidade científica… mas o que realmente acaba tirando o sono é o Twitter pessoal do CEO da empresa, Elon Musk.
4) Cronograma
Talvez a parte mais chata, crítica e mais tensa a se discutir. O Comercial sempre vai querer o produto para ontem, o Regulatório e Técnicos sempre vão querer mais 6 meses para testes e a Diretoria sempre vai reprovar quando não tem mais tempo para nenhum retrabalho.
Qual a solução? Fazer um cronograma realista, respeitá-lo e dar visibilidade a ele. Todas as áreas precisam saber qual é o impacto de um atraso por menor que pareça ser. Às vezes 2 dias de atraso numa aprovação compromete janelas importantes com fornecedores. Se o produto tem insumos importados, isso é ainda mais crítico.
A Diretoria cobra um lançamento para o Natal, mas na terceira reunião não aprova o produto? Hora de acionar o cronograma e mostrar que existem etapas que são negociáveis sim e a equipe já está fazendo o melhor possível, mas existem etapas que estão fora do nosso controle. Isso requer muito jogo de cintura, mas deixar claro que nem tudo está sob o nosso controle pode trazer o senso de urgência que você precisa. E isso não é empurrar a culpa para terceiros, fornecedores ou Agências Regulatórias, é sim dar a visibilidade dos processos a todos.
Aquela máxima do gerenciamento de projetos “9 mulheres não fazem um bebê em um mês” é verdade. E precisamos constantemente relembrar isso.
5) E se der m*rda?
Com a facilidade que as redes sociais trouxeram em repercurtir episódios ruins das marcas, agora é cada vez mais comum as empresas terem profissionais responsáveis por Gerenciamento de Crises. Mas nem sempre a estrutura da empresa comporta uma área de RP e acaba centralizando tudo no Marketing. E mesmo para empresas que tenham esses profissionais, o GP deve estar alinhado com o RP em momentos de crise.
Pensar no que pode dar errado é uma prática que ninguém tem tempo de refletir e ninguém quer de fato trazer o assunto à mesa. Mas é importante pensar em quais as consequências que o produto pode trazer para a empresa caso dê errado. Isso contempla a mensuração financeira do prejuízo e também na imagem de marca.
Pensar nisso pode te trazer insights para o desenvolvimento e para a comunicação do produto. Portanto, não deixe de pensar o que seu lançamento tem de errado. Pode parecer controverso (e um tanto pessimista) mas mapear onde está seu teto de vidro pode ajudar a se blindar contra a concorrência e garantir uma resposta rápida a qualquer ruído que surja.
A imagem abaixo é de um dos mais emblemáticos problemas de projeto da Arquitetura contemporânea. O Edifício é conhecido como Walkie Talkie e fica em Londres. Na fase final de construção, vários carros que estavam estacionados ao redor do prédio e vitrines de lojas do entorno foram queimados (!) graças ao formato côncavo do edifício que refletia a luz solar diretamente nos objetos. O Edifício ainda está lá (desenvolveram várias alternativas de filtros para minimizar o impacto), mas acabou virando piada no meio arquitetônico. Além do prejuízo financeiro para reparar os danos (indenizações, os próprios filtros instalados), como mensurar a mancha na marca da Construtora e do escritório de Arquitetura?
Enfim, essa lista assegura que o produto será um sucesso? Não.
Mas espero que assegure você a ter uma vida mais administrável durante o projeto de lançamento de um novo produto.🙂
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